No Caminho
Minduim,
É verão e o sol das 13h faz o asfalto ficar mole à vista. Sigo para Lisboa; gosto tanto de escrever esta frase!
Lisboa sempre foi um sonho a ser alcançado. Portanto, sempre que sigo para lá, lembro-me de todas as coisas que fazem nossos pés seguirem um determinado caminho.
E essa seria a reflexão perfeita para nos escrever abundantemente: poesia, conto, elegia... Escrever como bilhete de passagem para a vida.
Nos últimos anos, aprendemos tanto... e ainda há tanto caminho.
Na noite passada, quando briguei contigo, restaram na casa: ausência e silêncio.
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E meu pedido de desculpas e meu agradecimento por tudo.
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Depois, ficamos ali em silêncio. Até a despedida virar um novo encontro.
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Hoje, sentada no banco mais alto do autocarro, percebo que não há outra pessoa para quem gostaria de escrever sobre ir a Lisboa.
Sobre estar na cidade do nosso poeta preferido, sobre ser uma Pessoa.
Então, escrevo para a sua caixa de mensagens:
"Todos os dias, no final da tarde, penso em si. Faço uma prece, rezo pelos teus.
Não há um dia em que não sinta falta de ler poesia contigo. Meu pai de literatura... Obrigada por tudo."
Ouço uma, duas ou três mensagens em que me dizes qualquer coisa: sobre viver com câncer, sobre a tua poesia ganhar os palcos do teatro, sobre limpar o sangue com a ajuda de máquinas que desconheço... Ouço ao fundo os bipes da máquina e a tua voz ligeiramente abafada pela máscara de proteção no teu rosto.
Ouço tudo, como se antes uma parte da mensagem me recusasse a ouvir. Que tu já me preparava para partir.