Paulo sem casa, aos 60 anos, chora pelos filhos das divisas. Deitado em sua cama, estirada sobre o mato, sob o relento Pede para mim: "Você que é do jornal, alerta o mundo. Diz que o Brasil é um país sem fronteiras. Eu vivi em Corumbá, perto da Colômbia, lá as crianças andam com fuzis, os traficantes oferecem as únicas opções de trabalho e as FARCs dominam". Depois, engole a saliva, esfrega os olhos e entre as escorregadelas da língua, que insiste em lhe dificultar a fala, Paulo diz: "O Lula mandou o exército retomar o país e está expulsando os guerrilheiros da Colômbia, esse homem fez coisas maravilhosas", ergue a mão direita em sinal de vitória e finaliza: "eu voto nele de novo". Paulo sem casa, mora a tanto tempo na rua, que já não sabe dizer quantos anos faz, reencosta o corpo cansado no solo, mas se levanta rapidamente quando tiro uma foto e diz: "Meus filhos não merecem ver este rosto véio morando nas ruas"
Todo mundo tem histórias para contar. Eu quero escrever a sua. Vamos lá?