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Mostrando postagens de maio 21, 2010

O véio

Paulo sem casa, aos 60 anos, chora pelos filhos das divisas. Deitado em sua cama, estirada sobre o mato, sob o relento Pede para mim: "Você que é do jornal, alerta o mundo. Diz que o Brasil é um país sem fronteiras. Eu vivi em Corumbá, perto da Colômbia, lá as crianças andam com fuzis, os traficantes oferecem as únicas opções de trabalho e as FARCs dominam". Depois, engole a saliva, esfrega os olhos e entre as escorregadelas da língua, que insiste em lhe dificultar a fala, Paulo diz: "O Lula mandou o exército retomar o país e está expulsando os guerrilheiros da Colômbia, esse homem fez coisas maravilhosas", ergue a mão direita em sinal de vitória e finaliza: "eu voto nele de novo". Paulo sem casa, mora a tanto tempo na rua, que já não sabe dizer quantos anos faz, reencosta o corpo cansado no solo, mas se levanta rapidamente quando tiro uma foto e diz: "Meus filhos não merecem ver este rosto véio morando nas ruas"

Procura-se uma história para mulher centenária

Residente no bairro Bonsucesso em Igaratá, em uma casa feita de taipa e chão batido, Dona Almerinda Rodrigues dos Santos completa em 2009, 104 anos de uma vida que não se sabe a origem, mas que tem sido repleta de vitalidade. Pouco se sabe sobre a verdadeira origem de Almerinda. Alguns dizem que fora filha de escravos que após a abolição teriam se perdido da filha. Outros afirmam que ela foi uma criança vendida por seus pais para conseguir alimento. E tem ainda, aqueles que dizem que ela era uma mulher simples que com o passar do tempo perdera o contato com seus parentes consanguíneos. "Quem a conhece não imagina quantas histórias Almerinda já deve ter vivido. Além da falta de informação sobre sua infância ainda há o fato em que antigamente demorava para registrar os recém nascidos. "Em seus 104 anos oficiais, quando Almerinda “encasqueta”, caminha cerca de 20 km, do bairro Bonsucesso até o centro de Igaratá, para visitar Paulo Melani, seu filho de criação. Paulo diz que fico

História

Certos olhares parecem tocar o infinito As mãos que semeiam experiência Os pés calejados de uma mulher centenária Que gestos podem descrever a venturas e desventuras por ela vividas? Algumas mulheres, mesmo com o passar dos anos, a solidão fria das paredes silenciosas da casa, mantém a docilidade de uma criança e os olhos que vem o futuro como o próximo minuto, por que a vida, essa palavra pequena de dimensão inalcansável, a vida acontece no presente. Almerinda, que histórias guardam seus cômodos de barro, suas roupas de trapo? Que capacidade a tua de sorrir de tudo, de alcançar longas distâncias de caminhos e de vida. Entrevistar Almerinda foi um presente que recebi, e publico a seguir a matéria.