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Mostrando postagens de setembro 15, 2022

No Olhar de Olga

“É fácil viver a vida dos homens comuns. Difícil, minha filha, é viver no submundo”, diz a moradora de rua Olga, enquanto é despejada de uma casa que ocupou por um tempo com outros quatro sem teto. Enquanto recolhe o shampoo do banheiro ela, que já foi professora de português e línguas, olha para as policiais femininas e questiona: “Como é ser guarda? Anjo da guarda? Vocês também guardam por mim?”. Recolhe o cobertor delicadamente dobrado sobre a cama de papelão, a cama fria não é tão gelada quanto o olhar atento dos donos do imóvel, que antes da ocupação vivia abandonado. Seu companheiro de rua recolhe a cebolinha que plantou num vasinho preto na janela. Olga tem vontade de chorar, mas não pode. “Na rua a gente é forte porque não tem opção de ser fraco”. As policiais estão paralisadas, cada uma na porta de um cômodo, Olga olha para elas e com perfeita afinação canta: Os anjos de onde vem sua vida bem-vinda ... os livros não são sinceros Quem tem Deus como império No mundo