Petisbom
- Não acredito!! Levanta Fran, surpresa ao reencontrar o primo. Moram a uma quadra de distância, mas não se viam há um ano.
Se cumprimentam e se abraçam, do mesmo jeito que no interior
em que o mundo sempre parece pequeno e rever rostos fraternos é tão comum como
o frio nas noites de inverno.
Ele veste avental e segue direto para a chapa, onde borbulha
nas cumbucas a feijoada do dia servida no Petisbom, localizada no coração do
bairro Bela Vista, na capital paulista.
Chegamos ao local por indicação do porteiro do prédio onde
estudamos jornalismo literário. Ao ser questionado sobre onde encontraríamos
comida boa e barata, sugeriu o bar e lanchonete à frente do posto.
Indicou com timidez clara, deixando um ritmo desconcertante
na voz com molejo nordestino. “Expérimenta, se não gostá, num comi”, resumiu.
De fato, é outro universo. De uma esquina para a outra, mais
parece que voltamos no tempo. Ao lado da porta, o bicheiro recebe apostadores,
é apertado e barulhento.
Há quatro mesas no ambiente, em uma delas está uma família
completa: papai, mamãe, vovó e netinho. Estão à vontade como quem almoça na
copa de casa.
- Come de boca fechada menino. Ninguém precisa saber o que é
que você está comendo, ensina a avó para criança que inda agora subiu de nível,
quando o garçom lhe trouxe a cadeira infantil. Agora o bebê vê todos na mesma
linha dos olhos dos adultos.
Os garçons são todos assim, parecem todos primos da gente,
correm para todos os lados e servem tudo muito rápido, com notória intimidade
com aqueles que são fiéis.
-Seu Jorge, perguntam ao casal com traços portugueses, já
voltou de Ribeirão Preto faz tempo?
Para nós, toda atenção! Comida caseira, servida rapidinho, que
tem fartura no prato como na casa da avó.
- Come menino, ordena a velha para a criança.
Operários se sentam à mesa conosco, porque o espaço funciona
como nos bandejões universitários, se tem cadeira senta. Não precisa conhecer,
não precisa ser amigo.
A louça tilinta de lá para cá, vai feijão, vem arroz, quer
batata?
O casal de idosos paga a conta. Os operários já foram
trabalhar. E nós já vamos embora. Pede a conta e paga.
- Traz chiclete pras meninas ô Zé!
Saímos com doce na mão. Como quem come em casa de família
grande e há muito barulho, muita agitação e todos compartilham mais que uma
refeição.
Érica Alcântara
Exercício da pós de jornalismo literário, 2015
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