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Relaxa a vista que o anjo voa

De longe, olho da calçada a Missa de Páscoa da Matriz do Pilar, em Ouro Preto - MG.
Lembro da menina que fui, sentada no banco que gemia ao peso do traseiro, olhando para a abundância de arte.
Confesso, que muitas vezes sequer ouvi a voz do pároco, firmava os olhos nos anjos e pensava: "se eu fechar os olhos só um cadim e me concentrar bem... nã nani nãnão, tem que ficar de olhos semi abertos, mas relaxa a vista, relaxa mais... ele vai mexer..." 😇

A minha infância inteira, olhei para os tetos das igrejas barrocas, na esperança de que com o poder da mente iria mover as asas dos anjos... eles sobrevoariam toda a gente e se sentariam ao meu lado, cercando-me com suas asas cheias de vento. E num abraço sagrado eu voaria com eles, acima das montanhas, sobre elas.

Magia de Minas, encanto das artes. Aí meu coração ❤️, tão mineiro 💜 mais solto que a brisa do incenso da missa de Páscoa.
Érica Alcântara
07/04/2018

#historiasqueinspiram #ouropreto #escritora #poetisa #ericaalcantara

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Sobre a prova de Deus

Setembro de 2004, sentada na varanda de casa reflito sobre Deus.  Mais ainda, penso nas instituições que garantem representá-Lo. Me calo. O Deus por muitas delas defendido é sempre condicionado, por-Tanto, há sempre um preço a pagar.  E o amor nestes termos perde a pureza original, tem preço com QrCode no final. A dura verdade, a verdade mais difícil de digerir é que no fundo-no-fundo não dá para provar a existência de Deus, porque as provas concretas o reduzem a condições limitadas à nossa própria existência. Reduzir o divino é tirar de Deus sua onipotência, é transformar o Criador na própria criatura. Érica Alcântara

Velório

Entrou no velório ainda tonto, com os olhos cheios d'água, o mesmo terno preto cheirando a flores e o lenço sempre a mão, tapando a boca que cheirava a pinga. Todas as vezes que João bebia, acabava velando alguém, chorando a morte dos outros, chorando a partida alheia como se fosse a sua.  - Você é parente?  - Não, eu só vim dizer... Até logo.  - Você sempre fala com os mortos?  - Quem é você?  - Eurico Breve, seu criado.  - Desculpe, eu não faço criado.  - O senhor não entendeu, só quero lhe prestar pêsames, vejo que estás muito triste. Já sei, era o amor de sua vida.  - Que vida?  - Entendo, o senhor quer ficar sozinho. De todo modo, lamento sua perda, tenha fé que Deus conforte o coração de toda sua família.  - De que família o senhor fala? João que não amava ninguém olhou para o rosto pálido e duro deitado à sua frente e todas aquelas flores cheirando a capim, sorriu e saiu. Pensava no senhor Breve que tagarelava muito e no rosto sem nome, envolto de flores que de certo  murcha