Todo mundo tem histórias para contar. Eu quero escrever a sua. Vamos lá?
Ponta de areia
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Então, quando a saudade aperta, o coração dispara...
Escuto a canção, a estrada de ferro que me liga as minhas raízes
Que me enlaça em minha infância
No cheiro de Minas
No gosto das Gerais,
E então, então eu me torno grão de areia
E percorro a melodia qual vento que me assopra
lembranças...
A morte não é um espaço preciso, a se resumir em data e hora específicas, como os documentos resumem em “start and off”. Quando, na sala de cirurgia, o médico diz: “Acabou. Não se pode fazer mais nada”, a vida se remexe inteira em outro plano, reivindicando novos espaços de saber. A primeira lembrança marcante que tenho do Matheus já era um convite a novos saberes. Ele estagiava no jornal e eu, como tutora, era responsável por ajudá-lo a produzir reportagens que atendessem a critérios de imparcialidade, impessoalidade, clareza e outras coisinhas éticas das quais não abríamos mão. Lembro-me do dia em que Matheus foi escalado para fazer uma reportagem sobre um acidente em andamento. Na entrada de Santa Isabel, um motorista encontrava-se preso às ferragens. No local dos fatos, o jornal chegou antes da equipa de socorro, e Matheus recebeu a instrução: converse com o motorista até a ambulância chegar. Ele ficou na cabine, com o corpo abaixado, conversando com o homem ferido, que chorava mui...
Minduim, É verão e o sol das 13h faz o asfalto ficar mole à vista. Sigo para Lisboa; gosto tanto de escrever esta frase! Lisboa sempre foi um sonho a ser alcançado. Portanto, sempre que sigo para lá, lembro-me de todas as coisas que fazem nossos pés seguirem um determinado caminho. E essa seria a reflexão perfeita para nos escrever abundantemente: poesia, conto, elegia... Escrever como bilhete de passagem para a vida. Nos últimos anos, aprendemos tanto... e ainda há tanto caminho. Na noite passada, quando briguei contigo, restaram na casa: ausência e silêncio. . . . . E meu pedido de desculpas e meu agradecimento por tudo. . . . . Depois, ficamos ali em silêncio. Até a despedida virar um novo encontro. . . . . Hoje, sentada no banco mais alto do autocarro, percebo que não há outra pessoa para quem gostaria de escrever sobre ir a Lisboa. Sobre estar na cidade do nosso poeta preferido, sobre ser uma Pessoa. Então, esc...
Autocarro das 10h14, linha Praia de Santa Cruz rumo a Torres Vedras. Minduim, É sempre assim: sento-me a ver a estrada e logo penso em escrever para ti. E, porque você nunca morre e nem quero matar-te em mim... sigo escrevendo. Esta manhã, apareceu-me assim, sem qualquer aviso, Um sopro de vida , o último livro que partilhamos da Clarice! Tu sabes que pastos com aragens frescas podem, eventualmente, ser tomados de estrelas. Às vezes, olho para o céu e te chamo. Tu vês-me daí? Ainda podes ouvir-me? Olha que trecho que deitou-se ao meu colo é daqueles de boas conversas, looongas conversas: "Deus é uma coisa que se respira. Eu não tenho fé em Deus. A sorte é às vezes não ter fé. Pois assim, um dia, poderá ter A Grande Surpresa dos que não esperam milagres. Parece, aliás, que milagres acontecem como maná do céu, sobretudo para quem em nada crê. E essas pessoas nem notam que foram privilegiadas. Cansei de pedir. Para que o milagre aconteça, é preciso não esperá-lo." Estou mandando...
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