Alienação Parental
Hoje completo 40. Sempre tive orgulho de minha idade, cada tempo chegou
com sua prosa e poesia e varreu de dentro de casa muita poeira.
Amanhã também é dia dos pais. Pouco ou muito
tenho a dizer sobre este dia. Há alguns meses uma pessoa me disse:
- Você não sabe o que é perder um pai porque
nunca teve um.
- Você está me magoando, respondi.
- Mas é verdade não é? E quando você se
desdobrou para conhecê-lo o que você descobriu foi isso.
Poucas vezes assisti a crueldade de alguém
com a consciência de que a tristeza às vezes toma forma e passa a ter endereço,
data e horário fixo.
Cresci numa família de mulheres, com apenas
um irmão. Nos Dias dos Pais as escolas inventavam atividades e lembranças ou
presentes para chegar em casa e nunca ter alguém para entregar. Os porta-retratos
aos poucos foram ficando mais preenchidos de cinza chumbo.
Numa casa conduzida pela alienação parental a
mulher se encarrega de matar dia a dia a figura de um pai, então todos os dias
são dias de perda.
Mas o cadáver continua na sala, não se
decompõe ou desaparece. Quando o nariz cresce e parece com o pai, o jeito de
coçar a cabeça ou tocar o violão, tudo lembra o pesar e a ausência.
A alienação parental, mesmo que inconsciente,
nasce de uma relação perversa entre duas pessoas que, geralmente, por absoluta
falta de maturidade emocional usam crianças como escudo, arco e flecha.
Neste quadro são as crianças que aprendem
desde cedo a se lançarem contra um lado, a machucar com duras pontas, a curvasse
aos ressentimentos que não lhes pertence e independente da estratégia, são
certamente os primeiros feridos.
Não basta a ausência, não basta o abandono, a
mãe mata até às memórias. Como um soldado em campo de batalha barra qualquer
oportunidade de aproximação, como se o filho fosse propriedade, como se o filho
pecasse por amar o pai, mesmo que seja uma ideia do poderia ter sido, mas nunca
foi.
Eu gostaria que meu pai tivesse lutado por
mim, pelo menos um terço que um amigo meu e tantos outros que sei lutam por
seus filhos. Talvez tivéssemos alguma chance de ser mais que dois (des)conhecidos
e ter pelo menos uma destas recordações de capa de revista.
Mas ele não lutou, a distância cresceu com
tamanha proporção que se tornou um abismo.
Com o tempo a gente se acostuma com o vazio,
ou pensa que se acostuma e anda por aí com o peito rasgado. E pode ouvir a dor
do outro, por que sabe senti-la no espaço vazio que nada preenche.
Hoje aos 40, confesso que a minha maior força
nasce de minhas mais profundas delicadezas.
Sei o que é perder um pai, não por que a
morte nos tenha separado, a morte é irremediável, nossas escolhas não.
Todos os dias novas escolhas poderiam ter
mudado o rumo desta prosa...
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A maior declaração de amor que meu pai foi
capaz de me dizer até hoje foi:
- Se tivesse que errar tudo de novo para você ser quem você é, eu
erraria.
Linda mensagem , ótima reflexão sobre amor á vida
ResponderExcluirParabéns saúde paz e felicidades