Pão e circo
Lula ficou frente à
frente com o Juiz Federal Sérgio Moro. É o que mais se fala, se debate, se
briga, se ironiza ou se chora nas últimas 72 horas. Não vou julgá-lo, não tenho
poderes para isso, mas confesso que me causa certa estranheza alguém que tenta
adiar o próprio depoimento, diante do inevitável, diz publicamente que está
sempre disposto a falar a verdade.
Agora não há mais o
que fazer, é preciso falar. Não há mais como adiar, pois as eleições estão por
vir e este é tempo de se expor. Seja como for, a regra é: “Falem mal, mas falem
de mim”. Uma coisa é inegável, em ambos os lados há inteligência refinada e
retórica apurada e só a história, ou Deus, poderá dizer quem é mesmo o mais próximo
da verdade.
Será possível a
imparcialidade dos envolvidos no julgamento? Será mesmo que a grande mídia ouve
todos os envolvidos?
Fato é que não
adianta crucificar um homem e manter tantos ladrões soltos. Lula não inventou a
corrupção, mas possivelmente não se manteve ileso a sedução desta cobra. Mas se
a justiça quer se mostrar não mais cega e/ou retardatária, seria de bom tom parar
de bater com uma mão e acariciar com a outra.
A liberdade de ex-ministro
José Dirceu, amoleceu a minha crença em toda a operação e há grande chance
de que os tempos sejam os mesmos de César, em que ao povo dá-se apenas pão e
circo. E o enfrentamento entre um Juiz e um ex-presidente, não passa de um
episódio da próxima temporada.
Nós escolhemos o
espetáculo, trocamos os canais, mas geralmente eles falam as mesmas notícias. Como
na política, elegemos nossos representantes e eles são aparentemente dominados
pelas mesmas mazelas, em que valores tem preço.
“Se você se deixa arrastar pelas pressões da sociedade de
consumo, não existe dinheiro que alcance, não tem fim, é infinito”, esta frase
é de José Alberto Mujica, ex-presidente do Uruguai que durante todo o seu
mandato como Chefe de Estado conservou o mesmo patrimônio que tinha antes de
ser eleito.
Um país irmão, colado ao nosso território nacional, mas
aparentemente com pessoas tão distintas. Até onde se sabe, Mujica doava 90% de
seu salário como presidente a programas sociais e o restante utilizava no
tratamento terapêutico de sua irmã.
“Temos de escapar da escravidão que impõe a dependência
material, que é uma das coisas que mais roubam tempo na sociedade
contemporânea”, defende Mujica.
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