Pular para o conteúdo principal

Mãe: a força que vem do amor

Para uma mãe tudo é novo e todos os dias os filhos a surpreendem. É assim que Mônica Aparecida Pinheiro, 37, descreve a maternidade. Considerada uma super mãe por amigos e parentes, Mônica conta que seu primeiro filho Dênis, hoje com 15 anos, tão logo nasceu precisou ficar internado na UTI por 23 dias: “A gente tem o poder de mudar a história, mas não o destino. Era meu destino ter um filho especial”, diz. 

Embora tenha nascido normal, sem nenhuma alteração aparente, aos quatro meses Mônica percebeu que o desenvolvimento do filho mais novo, Gabriel, hoje com 13 anos, era diferente do mais velho. Após algumas consultas chegou o diagnostico: paralisia cerebral provocada por  uma desconhecida má formação congênita.
Entre sorrisos e olhos esporadicamente repletos de lágrimas, Mônica recorda o momento em que o médico lhe disse que seu filho nunca ia falar, andar ou ter uma vida normal. “Hoje eu entendo que ele não queria me entristecer, queria mesmo era me trazer para a realidade de que, cada descoberta de Gabriel seria uma vitória maior que qualquer outra. Então você pode imaginar quanta emoção senti quando ele falou pela primeira vez, ou perseguiu com o olhar as coisas que desejava, por que até olhar para o sol é uma conquista”, conta.


Dênis, Mônica e Gabriel
No fundo, Mônica entendeu que as limitações de uma criança especial estarão sempre presentes, “mas eu sou mãe e não será uma faculdade de medicina que me dirá que ele jamais conquistará seu espaço no mundo”.

Antes de se mudar para o centro, Mônica morava com a família no Porto Alpina, distante sete quilômetros. Mesmo sem carro, três a quatro vezes na semana ela o levava aos especialistas: fisioterapia, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicopedagogo entre outros. “Tudo pelo SUS. Tanto aqui, quanto na AACD ele recebe um ótimo tratamento, similar ao oferecido pelos convênios particulares (que também possuem filas), e para fazê-lo, basta persistir”, revela.

Quando Mônica matriculou Gabriel na Emei Carlos Gomes lhe explicaram que não havia profissionais capacitados para dar a atenção que seu filho precisava: “Não tem problema, eu fico com ele. Mas quero que tratem meu filho como uma criança normal, se for necessário chamar atenção chamem, se for preciso colocar de castigo coloquem, por que eu não quero que ele seja privado da educação dentro de uma escola”, lembra.

Um dia disseram a Mônica que se depois de dez anos ele reconhecesse o próprio nome seria extraordinário, “imagine a minha emoção quando, na formatura, ele escreveu na lousa meu nome e o do pai. Se eu não acreditar no meu filho, quem o fará?”.
Para esta super mãe as batalhas que enfrenta não são para benefício de seu filho. Para ela Gabriel é a prova de que as crianças especiais podem ser vistas de modo normal: “É só encarar de frente os desafios, por que dificuldades aparecem todos os dias”.
Mônica diz que o filho mais velho, Denis, é uma inspiração, “Meu anjo da guarda”. Pois qualquer criança poderia se revoltar com as dificuldades que fazem com que os pais dediquem uma atenção diferenciada para o irmão mais novo: “mas Denis nunca se revoltou, ao contrário, nos ajuda a cuidar de Gabriel tratando-o, ao mesmo tempo, como um companheiro”, diz.
Hoje Gabriel cursa a oitava série na E.E. Cel. Benedito Ramos Arantes, coleciona certificados de cursos de informática e Mônica se prepara para a escolha de qual faculdade ele vai querer fazer, ou ETEC: “Pensar no futuro assusta”, revela a Mãe.
Há pouco tempo, entre os tratamentos Gabriel parou de fazer Equoterapia: “Cismou que não queria mais ir...”, depois de uma breve pausa Mônica destaca: “estou aprendendo a respeitar a opinião e a vontade dele, pois já quer fazer suas próprias escolhas”, diz.

 “Não é fácil e nem eu mesma sabia, antes de ser mãe, que tinha essa força. Por que não temos no país uma única cidade preparada para lidar com a inclusão, por isso eu sempre reconheço como o meu marido, Jeovanes Soares de Souza, é maravilhoso, pois com seu trabalho nos dá o conforto que não temos do portão de casa para fora”, revela.
A reportagem pede para fotografar a família unida, sorridente Mônica se levanta do sofá e chama os filhos. Pelo corredor vem feliz apoiando Gabriel que, apesar de todas as previsões contrárias, caminha a seu lado.
Quando questionados sobre uma mensagem que mandariam para as mães de todo o país, Denis diz: “Mãe querida é sempre amada” e Gabriel diz: “Mãe é como mel e é como sal”, curiosamente comparando a maternidade às especiarias que dão sabor a vida.

Publicado no Jornal Ouvidor ed. 973 10/05/2014

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Sexo com compromisso

  Por Érica Alcântara   Apenas para evitar cair na vala comum dos erros provocados pelas generalizações, vou usar a palavra “quase”, mas admito que internamente sinto que ela é dispensável na frase a seguir: Quase... sempre que um homem, desprovido de argumentos, quer destruir (ou rebaixar) a imagem de uma mulher ele joga ela em alguma cama (na dele ou de outros). E digo, sem medo de errar, que o problema é antigo, não começou hoje. Explico: Na Bíblia a mulher verdadeiramente boa é a virgem, que é capaz de dar à luz sem ter sentido prazer algum. Mas a mulher que peregrina ao lado de Cristo, que o apoia na jornada de evangelização e, possivelmente se torna o 13º discípulo, essa mulher é marcada na história como a prostituta. E na balança de nossa moralidade, ainda tão obsoleta, as putas não merecem respeito. Por isso, existem tantos filhos da puta. E o jeito certo de começar uma briga é jogar a mãe (quase virginal) na cama de muitos homens. Então, quase que tradicionalmente, q

O peixe morre pela boca e nós também

Por Érica Alcântara Agora que a pandemia amenizou estamos mais à mostra, presencialmente à mostra. E que mensagem estamos transmitindo? Que código silenciosa meu corpo passa quando, sem nenhuma palavra, caminho na direção de um estranho. A porta da escola voltou a formar fila de espera para entrar. Por aqui os uniformes são vermelhos da cor do tomate, beeeem vermelhinho e, observando melhor, a maioria das crianças tem mesmo um formato de tomate do tipo caqui. Bem redondinho. Quando eu era criança ser gordinho era sinônimo de saúde, é como se a criança gordinha simbolizasse uma casa repleta de fartura. As crianças magras eram obrigadas a tomar tônicos e aqueles elixires “de crescimento”, tudo para abrir o apetite que, para muitos depois de abrir, nunca mais fecharam... Mas aí, chega um dia em que ser gordinho deixa de ser símbolo da saúde e passa a ser motivo de escárnio, chacota para os estranhos e, muitas vezes, para os parentes mais inconvenientes. Reportagem R7: https://bity
 Até você vir  O vento era tudo Que ia, que vinha  Até você vir O tempo passava Eu o sentia, lânguido Agora tudo é brisa O tempo desliza Suaves rompantes Coram-me a face Cartas ridículas Cartas eróticas Seu corpo pálido Minha pele morena Seu corpo nu Minha alma despida Érica Alcântara