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Diga ao povo que fico

Não é aula de história, tampouco o personagem é Dom Pedro de Alcântara. Essa semana o presidente Michel Temer sentiu tremer a moral e as bases de seu trono conquistado a duras e escusas estratégias políticas. Com ar de soberano, sem expressar qualquer sentimento ou fraqueza enfrentou as delações que o atingiram no peito e disse: “daqui eu não saio daqui ninguém me tira”. Ops. Essa é a letra de uma marchinha de carnaval, corrigindo, Temer disse: “Não renunciarei”. 
Lá em Minas o leite também ferveu e entornou “todim” no fogão, foi uma lambança épica que manchará pelos próximos meses, não creio que para sempre, o nome da família de Aécio Neves. 
Tudo ficou turvo da noite para o dia. Outro impeachment? Duvido, nem há tempo para isso. Daqui a pouco novas eleições desenharão um quadro que dirá se o povo aprende algo com os noticiários que estampam depois da morte a mais nova verdade absoluta: a de que todo mundo tem seu preço. 
Quando questionei se seríamos todos etiquetados, cada qual com seu preço, meu amigo J.L. comentou em minha rede: “Sim, todos são corruptos inclusive eu e você, alguns por dinheiro, o resto pela vaidade, se não me vendi é porque não chegaram no meu preço!! Não acreditemos em ninguém, uma nação precisa sim de instituições independentes para se vigiar e um estado sem tanto poder financeiro, quanto menos dinheiro e menos poder, menos corrupção!!” 
E neste pensamento me questiono: Se não houver a tentação, será possível que talvez se mate o desejo? Não tenho certeza. 
A madrugada se aproxima e sentada em minha mesa a única coisa que penso é que no meio de toda essa tempestade uma luz surge, seu nome: Benjamin. Nasceu na manhã de ontem, filho de Letícia e André, dois pensadores de ideias firmes e convicções apaixonadas. Em seu sangue corre histórias de antepassados que sobreviveram a guerra, que venceram o nazismo e trouxeram para o mundo novo a força de poder recomeçar. Afinal a vida é feita de muitos recomeços, cada qual repleto de possibilidades. Com seus dedos finos e longos, pesando três quilos e trezentos, com os olhos fechados e a boca de choro, parece mesmo anunciar a esperança de que a vida sempre se renova. Dá pulos e sobressaltos e tudo isso, agora, mais parece apenas pano de fundo de seu primeiro passo para a vida. 
Emocionada com tua chegada, toda eu te saúdo, seja bem-vindo Benjamin.
Publicado no jornal Ouvidor Ed. 1125, 20/05/2017
 

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