Pular para o conteúdo principal

Harmonia


O fim da vida no campo

Não é fácil alcançar a Harmonia, nem o bairro de Igaratá, que leva o mesmo nome desta virtude. Estradas tortuosas, sem sinalização, com pequenas vias que confundem o condutor inexperiente no município. Mas, quando se acerta o caminho, adentra-se num vale de beleza expressiva, cercado por montanhas e de água límpida, que brota fartamente da terra. O povo hospitaleiro é exemplo da qualidade de vida, do homem enraizado no campo, mas que aponta, com certa tristeza, para um futuro incerto, onde o sistema capitalista pode engolir e dizimar o pequeno produtor.

Ditinha apresenta o bairro com o orgulho que salta aos olhos brilhantes. Organizadora das festas, agente de saúde e responsável pelas chaves da igreja, Ditinha conhece todos os moradores.

As vicinais dentro do bairro são de difícil locomoção e, quando não há bois e vacas atravessando as vias, as valas formadas pela enxurrada da chuva deixam o acesso às casas muito difícil. Mesmo assim, Ditinha faz questão de mostrar a produção artesanal de queijo, feita por Rosângela Maria e seu esposo Silvano Souza. Herdeiros de uma tradição que iniciou com Agripino Fernandes e sua esposa Madalena.

Embora seja homem simples, de poucas palavras, cada frase de Agripino gera impacto. “Não dá para viver na roça, a gente compra produto caro na cidade para produzir o queijo, e depois é forçado a vender barato”, lamenta.

Agripino diz que não há incentivo para sair do produto artesanal, e iniciar uma produção maior, porque os impostos são muito altos. Até mesmo a equipe da Cati – Leite (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral), programa de apoio ao produtor rural, do Governo do Estado, diz Agripino, que faz tempo que não parece no bairro. E com as dificuldades impostas pela lida diária do pequeno produtor, ele diz que os mais novos não querem ficar no campo. “Para nós não há dias de folga, feriados nem férias”, relata.
Um, dos 11 filhos de Agripino, Paulo Fernandes, produz foices de forma artesanal. Aquece o aço, e depois de avermelhado, aplica fortes golpes sobre ele, na bigorna. Paulo, que estudou até o terceiro ano do ensino fundamental, concorda com o pai, e admite que, hoje, incentiva o próprio filho, de 15 anos, a estudar bastante para não ter de viver na roça. “Aqui a vida é muito árdua”, lamenta.

Para Ditinha é a união entre as pessoas do Bairro da Harmonia que garantem, hoje, a qualidade de vida e a beleza única que a natureza e o homem do campo tem.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Até você vir

 Até você vir  O vento era tudo Que ia, que vinha  Até você vir O tempo passava Eu o sentia, lânguido Agora tudo é brisa O tempo desliza Suaves rompantes Coram-me a face Cartas ridículas Cartas eróticas Seu corpo pálido Minha pele morena Seu corpo nu Minha alma despida Érica Alcântara

Isabelense é inocentado após 17 meses de prisão

“A esperança de voltar para minha família me manteve vivo”, disse David João Nunes Inácio por Érica Alcântara David João Nunes Inácio fez questão de começar a sua entrevista na quarta-feira, 23/10, dizendo: “Eu sou isabelense, nasci aqui, trabalhava aqui e não quero deixar esta cidade”. Em abril de 2018 ele foi preso, acusado de participar de um crime que, em dezembro de 2015, ceifou a vida da professora Maria Helena de Oliveira Godoi, assassinada na cidade de Redenção/Pará. Após 541 dias preso, o Juiz de Direito do Pará, em auxílio à Vara Criminal de Redenção, Dr. José Torquato Araújo de Alencar absolveu David de todas as acusações em face da falta de provas. “Não guardo revolta, só a vontade de voltar para minha vida”, diz. O Processo No dia 24/04/2018, David foi preso quando saía do trabalho na Secretaria de Serviços Municipais. Ele ficou preso alguns meses em São Paulo, depois foi transferido para o Pará onde ficou sete meses sem ver a esposa, Luciene Cristina

Sobre a prova de Deus

Setembro de 2004, sentada na varanda de casa reflito sobre Deus.  Mais ainda, penso nas instituições que garantem representá-Lo. Me calo. O Deus por muitas delas defendido é sempre condicionado, por-Tanto, há sempre um preço a pagar.  E o amor nestes termos perde a pureza original, tem preço com QrCode no final. A dura verdade, a verdade mais difícil de digerir é que no fundo-no-fundo não dá para provar a existência de Deus, porque as provas concretas o reduzem a condições limitadas à nossa própria existência. Reduzir o divino é tirar de Deus sua onipotência, é transformar o Criador na própria criatura. Érica Alcântara